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A linda relação entre saúde e alimentação à base de plantas

Nos últimos 80 anos, a nutrição virou um foco importante de estudos na medicina. Com certeza, se você procurar na sua memória, vai encontrar manchetes de revistas revelando os perigos das gorduras trans, ou vai lembrar de alguma reportagem que indicava peito de peru defumado como alternativa saudável para o café da manhã. 

Nutrição x Dieta

Se falarmos sobre a cultura da dieta, você já deve ter ouvido falar sobre alguma estratégia milagrosa que promete efeitos impressionantes em tempo recorde. Tinha dieta da sopa, da lua, da ração humana e todo mundo conhecia alguém que havia testado e perdido muito peso.

Nessa lógica, passamos por muitos momentos de instabilidade até chegarmos a uma sensação de não saber o que comer. Esse sentimento de estarmos perdidos é absolutamente natural. Vivemos em um ambiente de informações rápidas e dinâmicas: no mesmo momento, você vê um profissional falando bem da chia e, no minuto seguinte, outro fala que faz mal. Um defende o jejum e outro ataca… É um ciclo interminável. Por fim, ficamos confusos e perdidos sem saber em quem acreditar.

A grande questão é a nutrição ser, sim, uma área em constante transformação. São muitos os estudos e atualizações sendo construídos e há uma necessidade de adaptação constante. Mas, se não podemos falar de consensos, há outro tema aparecendo com consistência nos estudos científicos sobre as relações entre hábitos alimentares e estilo de vida: a alimentação à base de plantas.

O princípio de tudo

Pode-se dizer que quem deu o primeiro pontapé nessa direção foi o bioquímico T. Colin Campbell, autor de um dos estudos mais abrangentes sobre as relações entre estilos de vida e saúde, The China Study, que analisou as populações de regiões da China considerando seus diferentes hábitos alimentares.

 O estudo tinha como objetivo acompanhar as relações de longevidade de populações rurais que tinham uma alimentação rica em vegetais em comparação com as populações que migravam para as cidades e passavam a ter mais acesso a alimentos de origem animal e ultraprocessados. A conclusão apontava uma relação clara entre o consumo de ingredientes de origem vegetal com prevenção e reversão de doenças como diabetes, hipertensão, alguns tipos de câncer ou as conhecidas como doenças do estilo de vida.

De lá para cá, tivemos um crescente número de médicos e pesquisadores aprofundando seus conhecimentos nessa área e começando a trazer o tema para dentro dos consultórios. 

Alguns exemplos, como o Dr. Michael Greger, pesquisador e autor do livro “Comer para não morrer”, que traz uma série de estudos conectando alimentação e saúde. O livro é uma bíblia para aqueles que querem entender com profundidade sobre o tema. 

No Brasil, um dos grandes nomes da área é o Dr. Eric Slywitch, médico da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e autor do livro Alimentação sem carne: Um guia prático para montar a sua dieta vegetariana com saúde — que traz com clareza os primeiros passos para uma transição alimentar com saúde e bem-estar.

Quem escolhe reduzir ou parar de consumir os ingredientes de origem animal em prol da saúde tem ao seu lado estudos científicos e o aval de especialistas da área. Aprender um pouco mais sobre cozinha, assim como manter o olhar sobre outros aspectos da saúde, como sono e manejo do estresse, são atitudes que nos levam a um ganho enorme em qualidade de vida e saúde integral.

 

A saúde envolve muitos fatores do estilo de vida, mas é fato que comer mais vegetais facilita muito o caminho.

 

Hamburguer vegano

Mitos e verdades sobre parar de comer carne

De acordo com uma pesquisa do Ibope Inteligência (2018), 14% dos brasileiros se consideram vegetarianos. De lá pra cá, esse número deve ter aumentado, considerando que a oferta de produtos e restaurantes especializados em atender esse público ampliou. Com isso, o que cresce também são as suposições sobre o vegetarianismo. Mas qual delas são mitos — ou não?

 

Vegetarianos são mais saudáveis

Mito. A única coisa que vegetarianos têm em comum na sua dieta é a ausência de carne animal. Fora isso, cada pessoa vai se alimentar de acordo com a sua cultura, classe social ou como bem entender: seja adicionando diversas frutas e vegetais à rotina ou comendo ultraprocessados em todas as refeições.

 

Veganos e vegetarianos têm uma alimentação mais restrita

Mito. Por mais que as dietas veganas e vegetarianas sejam restritivas de uma lado, do outro é possível olhar para a ausência de proteína animal como uma oportunidade para experimentar novos alimentos! Muitas pessoas que passaram por essa transição contam que sua alimentação, na verdade, se tornou muito mais diversificada depois que a carne (e outros produtos de origem animal) foram retirados do prato. 

 

Vegetarianos têm deficiência de vitaminas ou proteínas

Mito. A vitamina B12 é o único nutriente que pode estar ausente na dieta vegetariana estrita e, por isso, pessoas veganas precisam suplementá-la. Todos os outros nutrientes e vitaminas são substituíveis. Inclusive, é possível que pessoas que comem carne, leite ou ovos também apresentem deficiência de B12, pois o organismo pode ter dificuldades de absorvê-lo.

Entretanto, o ideal é sempre fazer exames de rotina e, se estiver inseguro, buscar um profissional em nutrição especializado antes de fazer a transição para uma dieta vegetariana.

 

Crianças podem ser vegetarianas

Verdade. Podem até ser veganas, inclusive! O leite materno é o primeiro e único alimento que uma criança precisa nos primeiros meses de vida. Depois disso, como todos os nutrientes necessários são encontrados nas plantas (com exceção da B12, como mencionado acima), crianças podem crescer fortes e saudáveis sem consumir carne ou nada de origem animal. 

É interessante acompanhar mães com filhos veganos nas redes sociais para entender melhor essa realidade. O processo de socialização com outras crianças não-vegetarianas e confraternizações com comida é desafiador, mas não é impossível!

 

Vegetarianos comem mais agrotóxicos

Mito. Compartilhamos um texto mais completinho sobre esse assunto aqui.

 

Ser vegetariano/vegano é mais caro

Mito. No geral, vegetais, legumes, frutas e hortaliças são mais baratos do que a carne! Além disso, cozinhando em casa ou comendo em restaurantes populares, a alimentação continua mais barata. Mesmo ingredientes mais nobres, como tofu, cogumelo e castanha de caju, por exemplo, acabam sendo mais baratos do que muitas carnes e são completamente dispensáveis de uma alimentação vegetariana ou vegana.

 

Pessoas se tornam vegetarianas porque têm pena dos animais

Possivelmente, mas nem sempre! Em um texto aqui do blog chamado 5 motivos para não comer carne aprofundamos mais esse tema.

Diferentes questões podem motivar as pessoas a mudarem seus hábitos alimentares. Algumas farão isso em prol dos animais, mas o impacto da produção e consumo de carne no meio ambiente, por exemplo, costuma ser um ponto-chave que incentiva as pessoas a iniciarem a transição para o vegetarianismo.

 

É difícil ser vegetariano/vegano

Mito. No começo costuma ser mais difícil, sim, mas com o tempo vai ficando mais fácil. Você aprende a se planejar melhor, comendo em casa antes de sair ou levando um lanche na bolsa, por exemplo; passa a conhecer os restaurantes que têm opções sem carne; seu círculo social também se acostuma com seus novos hábitos e tudo flui de uma forma mais automática. 

 

Ser vegano e vegetariano é uma fase, pois está na moda

Mito. As realidades das pessoas, vegetarianas ou não, são múltiplas, bem diferentes entre si e muito difíceis de generalizar. Por isso, para alguns, o vegetarianismo pode ser temporário, mas isso não é uma regra: para muitos, é um compromisso para a vida.

Prato plant-based

5 dicas para fazer a transição alimentar para o vegetarianismo/veganismo

5 dicas para fazer a transição alimentar para o vegetarianismo/veganismo

De acordo com uma pesquisa do IBOPE Inteligência (2018), 14% dos brasileiros se consideram vegetarianos, ou seja, quase 30 milhões de pessoas já tomaram a decisão de parar de comer carne e outros produtos de origem animal. Mudanças podem ser difíceis, pois muitas vezes tiram as pessoas de suas zonas de conforto, por isso essa lista traz cinco dicas para tornar mais fácil a transição para uma alimentação vegana ou vegetariana.

  • Não tente apenas reproduzir as mesmas coisas que você comia antes

Produtos de origem animal estão presentes nas refeições da maioria dos brasileiros, desde o café da manhã até o jantar. Quando a transição para uma alimentação sem esses produtos começa, uma das principais dúvidas é como substituí-los, mas isso não é necessário.

O que pessoas vegetarianas e veganas aprendem ao longo do tempo é que escolher não comer animais não limita a alimentação, muito pelo contrário, a diversifica! É um processo, claro, pois é necessário desconstruir muitas ideias e mudar a perspectiva: é nesse momento que as coisas começam a ficar mais fáceis. Por exemplo, se o requeijão está presente no seu café da manhã, não é necessário comprar um requeijão vegano (que provavelmente é mais caro que o convencional), você pode testar algumas receitas de pastinhas vegetais, como o hummus ou uma pasta de semente de girassol.

Um bom primeiro passo é adicionar (ou manter) alimentos que são naturalmente vegetais, como o arroz e feijão. Frutas, raízes e hortaliças já deveriam estar presentes em uma alimentação saudável, assim, eliminar produtos de origem animal não fica tão complicado. Esse ponto nos leva à segunda dica.

  • Antes de tirar, adicione

Se você não tem uma alimentação diversificada ou se ela é baseada em alimentos ultraprocessados, a transição para uma dieta à base de plantas precisa ser adiada um pouco.

A alimentação é muito mais do que nutrientes, ela também é afeto, acolhimento e representa a história de um povo ou de uma família, mas seu principal papel é manter as pessoas vivas, por isso é necessário comer bem. Ultraprocessados, comidas gordurosas e cheias de conservantes precisam ser a exceção, não a regra.

Por isso, se você não come muitos vegetais, frutas e sementes, por exemplo, é importante que esses alimentos sejam adicionados antes de sair cortando produtos de origem animal. Aqui, o acompanhamento com um profissional é adequado também.

  • Aprenda a cozinhar

A terceira dica talvez seja a mais difícil. Estamos vivendo um momento histórico onde as pessoas têm pouquíssimo tempo disponível e, muitas vezes, esses momentos livres não são usados para preparar refeições.

Claro, os restaurantes, lanchonetes e cafeterias vegetarianos e veganos ajudam muito as pessoas que estão fazendo a transição para uma alimentação à base de plantas, mas cozinhar é importante também, pois não é possível fazer todas as refeições fora de casa, né?

Além disso, quando uma pessoa se torna vegetariana/vegana, as pessoas a sua volta também passam por um processo de mudança. Algumas demoram um (longo) tempo para aceitar, como é o caso da família. Por exemplo, você passou a vida inteira comendo o frango à parmegiana de sua mãe e, de repente, escolhe não comer mais. Nesses momentos, preparar um prato para aquela pessoa que cozinhava para você pode ser um símbolo de afeto.

  • Encontre um propósito

Falando em afeto, uma comida pode representar muita mais do que aquilo que está materializado no prato. Os aromas, as histórias e as pessoas por trás daquela refeição com produtos de origem animal tornam muito mais difícil dizer não para ele.

  Algumas pessoas decidem parar de comer animais por questões de saúde, outras porque conhecem os enormes impactos ambientais que esse tipo de indústria causa e tem aqueles que param pois acreditam que os animais não devem ser explorados. Independente do motivo, mantê-lo em mente facilita o processo de transição.

  • Compartilhe o seu processo

O número de pessoas veganas e vegetarianas está crescendo e está cada vez mais fácil encontrá-las por aí para trocar receitas, compartilhar polêmicas, discutir questões éticas, comentar sobre um documentário e indicar outro. Tire fotos, escreva, publique, ligue ou mande uma mensagem para alguém que compartilha das mesmas experiências você. Mudanças podem ser difíceis, mas ninguém precisa passar por elas sozinhas.